Janela Indiscreta
Incómodo mas inteligente o local escolhido, discreta a esplanada que nos acolheu e que quase passou despercebida à chuva - mas menos à cacimba das infantis 22h30 - viu-se/reviu-se a "Janela Indiscreta"
Soberbo filme.
Recuso a catalogar a perspectiva "voyerista" que a maioria dos comentários assume.
Creio que se trata de uma inteligente metáfora para recriar aquilo que é, no fundo, o real na espécie humana.
A observação de outros da nossa espécie - a curiosidade sobre o comportamento humano (como é que nós podemos interagir e o que impactos pode ter a nossa intervenção). Todos nós temos um pouco de Jeff em nós. Basta verificar que, tal como ele, passámos o filme literalmente agarrados ao ecran. Até o interlúdio seria atirado porta fora para podermos ter de novo a nossa janela.
A janela é em si discreta, sendo que marca pela enorme dimensão e os "estores" que mais me parecem de palhinhas, de uma geração mais sec. XXI.
Os pormenores são deliciosos - e para quem revê o filme mais que 2 vezes, de certo que os encontra molhos.
E a nossa própria janela é a de todos os dias: uns mais curiosos outros menos, uns mais atentos, outros nem tanto, uns mais interventivos e outros mais introvertidos.
Curioso verificar que por vezes a atenção demasiado concentrada "lá fora" esquece pormenores importantes do mundo "de dentro", cria bloqueios - pelo que o para "entrar" é preciso "riscar" lá fora - e eis a nossa Grace Kelly pendurada numa janela para se fazer notar
Eu que já vi o filme cinco vezes (!) só na passada sexta-feira reparei nos estores.