Um Castelo para Gala
Apesar de não haver sol, também não chove e o céu compromete-se a clarear. Um bom dia.
Dia de visita a Púbol. À Casa Museu de Gala, o Castelo de Púbol, que Dali ofereceu à sua companheira de sempre e sua musa inspiradora.
Púbol é uma aldeia antiga, na tipologia de uma aldeia do Norte de Portugal, em pedra, mas espantosamente bem cuidada. Toda a madeira escura das portas e janelas brilha, como se puxado o lustro diariamente, como se não houvesse um grão de pó na terra batida ou por entre as fendas da pedra encalcetada. Tudo parece ser novo e cheira a vida, apesar de poderem apenas ser casas de férias dos catalães.
A casa de Gala é, na mais adequada das palavras, surreal. Não lhe falha a traça do movimento. Entra-se pela porta da frente, encontramos tudo no seu devido lugar, como supostamente era. A lareira recebe-nos ao seu tom dalineano, de cantos redondos. Uma cadeira branca, de costas altíssimas, com atilhos laterais, é uma peça singular. Mas comparada com tudo o resto, só corrobora a imensidão de cores e do absurdo. A dita cozinha é deliciosa. O chão, aos quadrados pretos e brancos, destaca os móveis brancos, cheios de peças únicas delicadas - pratos pintados pelo artista, um a um, faqueiro, e muito mais.
O albúm de fotografias num quarto, sussurra outros tempos, de outros trajes. Enquanto encontramos um relógio gelatinoso pendurado no meio de uma colecção de bibelots.
O quarto de banho, singular, com lareira. Os candelabros de cores na sala. A mesa de patas de réptil, sem fundo, que espreita para o andar de baixo ( onde vive um cavalo). A jarra bordada a flores. Os discos, onde se lê. As fotos de Gala a preto e branco. A janela e a porta para o jardim, onde repousa um puf e cadeira de verga, na espreita do parapeito de pedra.
No último andar, os vestidos de gala, de uma actualidade recente.
Saindo da casa, encontramos um carro laranja à porta que condiz com as laranjas da àrvore farfalhuda.
Encontramos também uma autêntica "banheira" na garagem, preta e completamente recta. O jardim acolhe-nos logo adiante. Encontramos por entre a vegatação umas hastes de madeira. Olhamos para cima e descobrimos os célebres elefantes esculpidos. Uma larga fonte brota no final do jardim, enquanto uma estátua de gesso se perde num dos caminhos sem saída. Saimos com a sensação de que talvez seja um local quase mágico.