Le Marais
Após uma breve semana em busca "DO" hotel para ficar em Paris, nada como às 2h da manha do dia de voo, abrir a Rotas e Destinos do mês passado onde se destacava o Marais e dar de caras com "um DOS". Um "dos tais", daqueles que têm "je ne sais qua" a mais que os outros.
Versava a reportagem sobre alguns sitíos a explorar no bairro outrora apelidado de maldito. O bairro mais antigo da cidade e o único a não ser "recuperado" profundamente (leia-se demolido e reconstruido). Para além do Hotel do Petit Moulin (que aconselho ver o site), da autoria de Cristian Lacroix, saltou-me à vista a Maison du Marais (www.maraishouse.com). Estilo antigo, com um detalhe de morrer. As revistas de arquitectura, e outras de destaque, tinham publicado artigos sobre a excelência do lugar. O dono não revelava a morada, apenas a quem reservasse. Quatro quartos. Apenas.
Com a certeza de que seria no Marais, parti para a Marais House. O taxi pára numa rua escura, e pensaria eu que se tivesse enganado, mas a morada ditada ao taxista não deixaria margem para dúvidas. E não enganou. Nada assinala o local. Mas era ali.
Recebe-nos Yann, às 11h da noite, com uma extrema simpatia. Ensina-nos os códigos de entrada de porta em porta. Entramos por um corredor mínusculo e escuro, com paredes bordeaux, em imitação textura de pele de avestruz. Passamos à sala, enquanto as malas são despachadas num também ele reduzido elevador. Madames et Messieurs, entrámos noutro mundo.
A decoração é minuciosa e imensa. Longas telas, tapetes de parede, muita chinoisserie, muita peça antiga, candeeiros imponentes. Iniciamos a escada pela esquerda, que sobe até ao terceiro andar. Passamos por mesas, plantas, telas e mais telas, vasos, estátuas, nada é demais. A luz da rua não entra. A luz, é a dos candeeiros, abatjours de outros tempos. É a meia luz. Toda a casa é a meia luz. Parece tirada de um conto de fadas. A qualquer momento esperamos que se abra uma parede. Que as personagens dos quadros revirem os olhos, que as plantas nos agarrem, que surja alguém do zero. Mágico. Mas claustrofóbico.
Calha-nos o último andar. O terceiro. O "Elefante". "The most charming" dos quatro.
Recebe-nos à direita um armário grande e antigo, de chave pesada, daquelas que já não se encontram. Logo depois, uma das 6 lareiras da casa, imponente e deveras antiga, ladeada por 2 sofás, uma mesa de tabuleiro oriental, vasos e vasos, e mais biblots. Duas cómodas altas, com abajtours e espelhos com moldura grossa. Peças de porcelana contrastam, sempre à meia luz. A cama é larga e fofa, muito confortável. 2 anjos guardam a nossa noite dos pesadelos dos elefantes indianos do papel de parede azul que nos cerca.
A casa de banho, com uma verdadeira banheira vitoriana, funda, onde podemos tomar banho de imersão e ficar com as costas protegidas do frio. A verdadeira particularidade reside no facto de tanto o tecto, baixo, como as laterais das paredes junto à banheira serem apenas espelhos. Existe um espaço de duche interessante, que insitiu em água fria. E candeeiros chilreantes, de meia luz, nas paredes vermelhas. Na verdade, algo aludia à selva e o cheiro a humidade tornava a realidade numa fantasia facilmente delirante.
:) Adorei este post...mas tens de me contar.