sexta-feira, setembro 26, 2008

Um Castelo para Gala


Apesar de não haver sol, também não chove e o céu compromete-se a clarear. Um bom dia.
Dia de visita a Púbol. À Casa Museu de Gala, o Castelo de Púbol, que Dali ofereceu à sua companheira de sempre e sua musa inspiradora.

Púbol é uma aldeia antiga, na tipologia de uma aldeia do Norte de Portugal, em pedra, mas espantosamente bem cuidada. Toda a madeira escura das portas e janelas brilha, como se puxado o lustro diariamente, como se não houvesse um grão de pó na terra batida ou por entre as fendas da pedra encalcetada. Tudo parece ser novo e cheira a vida, apesar de poderem apenas ser casas de férias dos catalães.

A casa de Gala é, na mais adequada das palavras, surreal. Não lhe falha a traça do movimento. Entra-se pela porta da frente, encontramos tudo no seu devido lugar, como supostamente era. A lareira recebe-nos ao seu tom dalineano, de cantos redondos. Uma cadeira branca, de costas altíssimas, com atilhos laterais, é uma peça singular. Mas comparada com tudo o resto, só corrobora a imensidão de cores e do absurdo. A dita cozinha é deliciosa. O chão, aos quadrados pretos e brancos, destaca os móveis brancos, cheios de peças únicas delicadas - pratos pintados pelo artista, um a um, faqueiro, e muito mais.








O albúm de fotografias num quarto, sussurra outros tempos, de outros trajes. Enquanto encontramos um relógio gelatinoso pendurado no meio de uma colecção de bibelots.



O quarto de banho, singular, com lareira. Os candelabros de cores na sala. A mesa de patas de réptil, sem fundo, que espreita para o andar de baixo ( onde vive um cavalo). A jarra bordada a flores. Os discos, onde se lê. As fotos de Gala a preto e branco. A janela e a porta para o jardim, onde repousa um puf e cadeira de verga, na espreita do parapeito de pedra.
No último andar, os vestidos de gala, de uma actualidade recente.


Saindo da casa, encontramos um carro laranja à porta que condiz com as laranjas da àrvore farfalhuda.

Encontramos também uma autêntica "banheira" na garagem, preta e completamente recta. O jardim acolhe-nos logo adiante. Encontramos por entre a vegatação umas hastes de madeira. Olhamos para cima e descobrimos os célebres elefantes esculpidos. Uma larga fonte brota no final do jardim, enquanto uma estátua de gesso se perde num dos caminhos sem saída. Saimos com a sensação de que talvez seja um local quase mágico.





Mais tarde, ao jantar






Entra-se pela porta do páteo, onde as velas nascem para a noite e onde os vasos altos, tomam luz, do lado das paredes de vidro do restaurante. As mesas junto à lareira já estão tomadas.
Apesar de perdido em nenhures, o restaurante é conceituado e a sala está cheia.
A madeira crepita na lareira, permitida na cabeça de um touro em ferro que acima se sustenta.

Primeiro e segundo prato, como manda a tradição. E terceiro, "postres".
Somos presenteados com um shot de algo fabuloso, que me parecia conter ervilhas e pistachio. Chega o primeiro prato, com uma divinal especialidade da casa, sashimi de atum marinado. Delicioso, uma verdadeira originalidade. A salada de queijo de cabra está também apetecível. Segundos pratos também muito bem confeccionados. Em destaque, para além do sashimi, as sobremesas: tarte de peras e amêndoas, com gelado, assim como a degustação de sorvetes. Fecha com uno expresso, aceitável.



Beleza perdida pela sala em todos os detalhes.

Mais tarde



Ainda antes de jantar.
O jardim. O das mesas em madeira.

O tempo não ajuda, as nuvens cobrem o céu, mas fica-se muito confortável sentado no páteo.
É hora de tapas. E o habitual, "uno expresso".
Sou brindada com um "obrigadinha".

(Na manha seguinte, um "bom día" entre outras palavras, percebo que é melhor deixar de arranhar o castelhano, que o catalão es muy parecido com o nosso português).

Espreito o salão para jantar, e nem pela fome, já não me apetece sair de ao pé da lareira, dos candeeiros sumptuosos presos ao tecto, das cadeiras de veludo preto, dos castiçais preteados, das velas acesas, das cortinas pesadas mas airosas.

Voltemos encantados ao páteo, para mais umas tapas. O pão estala. O melhor presunto, as melhores tapas que já provei.


Empordà

Actualizando a chegada, há 2 dias atrás.
A cerca de 70 kms de Barcelona, Empordá.
La Bisbal, e a 2 kms, por entre estradas sinuosas, o Castell d´Empordà.

No alto de uma colina, na paisagem verdejante espreita o Castelo.
E sim, é mesmo um castelo, de pedra, recuperado, que pertenceu em penúltimo a Pere Margarit, que segundo reza, serviu a Colombo e foi o descobridor da Ilha Margarida. Agora pertence a um casal que conseguiu concretizar o sonho de rehabilitar um castelo e fazer um belíssimo hotel de charme. Pelo caminho, consta que Dali tentou oferecê-lo a Gala, mas as negociações ficaram pelo caminho, tendo arrematado o de Púbol. E ainda bem.

Surrealismos à parte, o edificio impera pelo bom gosto e pelo detalhe. A simpatia e disponibilidade de todos os empregados, sem excepção, é também um elemento encantador. A parte "velha" do Castelo (existe uma ala nova) não tem elevador. É um bom exercício de ginásio subir 2 andares com malas, embora o esforço seja largamente compensado com a vista do andar e com os próximos segundos depois da chave penetrar na porta.

Em todo o castelo, a madeira é escura, quase preta, o que lhe confere uma elegância irrepreensível. Entrada a porta, onde o "dragão", símbolo, acompanha o número, desconcerta-nos a imagem de uma janela antiga, grande, de portadas em madeira e de cortinados, presos cada um de seu lado, por pregos hiperbólicos. A paisagem bucólica, de qualquer um quadro toscano. O armário negro espreita ao fundo, em contraste com a cadeira fushia, de veludo e antiga. O candeeiro, já aceso, ilumina o tapete de pele de vaca, aos quadrados. A cama estende-se, larga. As almofadas, várias, altas e fofas, brancas alvas, pousam na colcha verde seca. Desvia-se a custo o olhar da janela, para mais uma vez parar fixamente na banheira de madeira junto ao quarto, separada por um biombo também ele de madeira trabalhada escura. As torneiras victorianas brilham por entre o espaldar. Cair em cima da cama, as malas esquecem-se, o tempo pára para mais tarde ser hora de jantar. A garrafa de champagne espreita da mesa de cabeceira e os copos estendem um reparo. Mais tarde.

Somewhere out in the rainbow...

Parte da teoria do "Segredo", segundo dizem, é pensar muito muito nas coisas para elas acontecerem...
Depois, diz a minha parte da teoria, é preciso passar à acção.
Começa aqui, há algum tempo atrás.
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